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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

lançamento, sábado, 21/02, às 22horas ,no bibliocafé Intensidez, em Évora



Da Fixação como Resistência.

Todo o século vinte reflectiu a pujança da alteridade, na sequência de uma certa carta que Rimbaud escreveu a Verlaine onde profetizava: Je est un autre. A poesia portuguesa, porém, inscreveu a alteridade logo na sua raiz, nas cantigas de amigo onde o amigo se alterava em amiga.
O outro é assim a matriz medieval dos textos fundadores e voltará, pela mão do romantismo a essa fundação seja pelos pseudónimos seja pelos alterónimos. Uma outra tradição fundacional é aquela que chega pelos textos árabes de Al-Mutamid,Ibn-al-murahal ou Ibn-Ammar. Neles a cisão autoral não se verifica e a fragmentação em papéis não é vertida em texto.
Talvez a posmodernidade seja, pela indefinição, o colapso da alteridade e a busca da inteireza ou do veraz.Tal altericídio, porém,não parece restituir o eu por muita negação do ego que seja praticada. O eu, como mito necessário e realidade fisiológica, aparenta-se sempre ao outro que o espelha ou distingue.
Ao ler estes textos de Teresa Cuco, estas reflexões impõem-se-me como nuvem de onde seja possível chover pensamento.
Teresa Cuco pratica uma atinência ao outro, sem no entanto se alterar em voz do outro. A estética mais aguda é, nela, a estética da recepção. Talvez de uma recepção inteira da qual não salvaguarda nenhuma parte neuro-emocional para praticar o póstumo. Esta resistência ao outro (a não mudança, a fixação no outro) traz como resgate a memória impregnada como lição aprendida em Simónides. O teatro da memória, nas ritualidades do quotidiano e antropoculturais, apresenta cada vez mais espectadores e cada vez menos viventes. O sistema de trocas, aparentemente terapêutico, processa-se pelo continuum, pela velocidade contra o sedimento. Muito raro haver quem, como Teresa Cuco, não se deslumbre com o instantâneo e consiga a permanência do invisível.
Ou, como diz Marina Tsevetaeva: “Não é possível dividir-te/em cadáver e fantasma./Não te trocarei pelo fumo dos incensos/Ou pelas flores das campas.”
alberto augusto miranda, in Prefácio, do Amor e da Espada, Teresa Cuco, Editora Corpos, 2008

[Une-nos o silêncio mágico da terra.
O arrepio das memórias das ausências.
Une-nos o espaço em branco
das palavras.
E o poema...
sempre o poema.]

Teresa Cuco, in do Amor e da Espada

As presenças:

Alberto Augusto Miranda, prefaciando...

Poemando... Margarida Morgado, Eduardo Raposo, Davide Santos e Ana de Sousa.

Musicando, nesta noite tão especial, João Cágado e Manuel Dias, com 3 temas de "Magna Terra":

- Guardador De Rebanhos
- Avondo De Mim
- Algo É Nosso

Improvisando... João Cágado, à guitarra, e os poemas de Teresa Cuco pela voz da própria!
e
concluindo... com o tema de encerramento da noite:
- Dádiva Do Mundo

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ao meu amor

Amo-te duas vezes

Em cada dia

Em cada momento

Sempre duas vezes

Quando te tomo

E quando dormes

Sempre que afago o teu cabelo

Quando falo com a noite

Desço em ti, quieto…

Absorvendo-te a alma

No teu íntimo

Sempre duas vezes

Galopa-me este sentimento duplo

sem que entendas

Amar-te-ei eternamente

e viverei duas vidas numa só, junto de ti.

Agora te digo que te amo em duas vidas inacabadas!


(Garibaldi)


chuva

Conheces a chuva?
Aquela gota que se junta a uma outra
depois…ganha forma e torna-se densa.
Então, outras se juntam e tomam forma, vida.
Galgam desalmadamente terras bravias,
rasgando-lhe o ventre até às entranhas.
Assim, milagrosamente,
brotam flores na terra árida.
Outras gotas virão
Nascerão outras flores
Virão outras gentes…
E a corrente não parará.

(Garibaldi)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

"Antígona Gelada", de Armando Nascimento Rosa


Fui há alguns dias assistir a esta peça.

Não sou uma amante de teatro, diga-se em abono da verdade. No entanto, tenho assistido a praticamente todas as peças deste autor.

Em primeiro lugar, corri sérios riscos de ficar quase tão gelada como Antígona no final da peça, não fora a mantinha vermelha dobrada em duas e o calor que vinha do amigo sentado a meu lado.

Apesar disso, consegui ficar presa ao desenrolar das cenas, seguindo o curso da peça, sem perder pitada.

O Armando Nascimento Rosa tem uma forma peculiar de escrita que se pauta por uma coisa muito importante: é que usa de uma linguagem simples, directa, perfeitamente acessível ao comum dos mortais. Digo isto porque, embora grande parte das suas histórias assente bastante em figuras mitológicas, não me pareceu que a peça se tornasse incompreensível para o espectador que não dominasse essa matéria.

Mesmo correndo o risco de esta ser uma apreciação algo simplista, reconheci no texto muitas das questões comuns a todos nós; os nossos medos, preconceitos, logros, vinganças, dissimulações, paixões, manipulações, etc.

Nalgumas das falas, extremamente duras e sarcásticas, registei a mensagem de alerta relativamente ao rumo que o mundo vem tomando e que obviamente também diz respeito a cada um de nós.

Falo da realidade virtual de Jean Baudrillard ou do homo consumericus de Gilles Lipovetsky, que se pode traduzir, grosso modo, pela “coisificação” da pessoa, banalização e perversão dos valores, sociedades cada vez mais adormecidas e anestesiadas, com o alto patrocínio dos mass media ao serviço dos poderes instituídos, remetendo-nos inexoravelmente para a solidão e para o vazio.


Finalmente, e caso os meus 2 fiéis leitores estejam interessados, poderão consultar aqui ou aqui, um resumo de Antígona, a de Sófocles, escrita há mais de 2 500 anos.


E pronto, é o que consegui reter desta peça do Armando Nascimento Rosa, enquanto gelava, qual Antígona.


Fiquem bem.

T.C.


nota: usei os seguintes links:
http://www.tiosam.net/enciclopedia/?q=Ant%C3%ADgona - Resumo sobre "Antígona"
http://protagonistas.blog.com/2238544/-Entrevista a Gilles Lipovetsky



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

fecho a boca das palavras...

[fecho a boca das palavras e derramo-me
no chão até desaparecer.
Hoje, estou triste.]

Por todas as pessoas no mundo que trabalham com empenho e dedicação.
Por todas as pessoas que são remetidas para a mediocridade
que interessa manter e alimentar para dar estatuto, entre outros, aos detentores da caridade.
Por todas as pessoas que são usadas
e atiradas para a precariedade.

É esta a nossa grande
enorme
infinita
solidão.


T.C.

antimáscara

Termo popularizado a partir do teatro de Ben Jonson (por exemplo, em Mercury Vindicated from the Alchemists at Court, 1616 — v. WWW), para uma técnica dramática que funciona como interlúdio num enredo, introduzindo um momento de grotesco durante o desfile sério das máscaras tradicionais. Quando precedia a representação da máscara, designava-se antemáscara. O desempenho da antimáscara está, no século XVII, associado a questões de estratificação social: os actores mascarados pertencem geralmente à nobreza e a aristocracia, são amadores, que participam no espectáculo teatral por razões lúdicas; os actores com antimáscaras pertencem às classes sociais mais desfavorecidas e são geralmente profissionais. O facto de a antimáscara ter uma função burlesca em relação à máscara convencional permite a comparação com as estratégias de simulação das sátiras gregas antigas. (http://www.levity.com/alchemy/jonson1.html)
Carlos Ceia, s.v. "antimáscara", E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9

Posto isto, Antimáscara assume-se como um convite a dissertações, poemas, textos e demais dizeres que acharmos por bem, enquanto gente de bem.
E porque acontecem coisas, dentro e fora de nós, será ainda um espaço de divulgação, divagação, indignação...(qualquer coisa) que fará o caminho enquanto for caminhando, ao sabor do momento (que é um tempo muito acertado).

Bem-vindos então (ao que há-de ser).
T.C.